25.12.06

Reflexão de Natal

Natal. Para muitos, é uma época com um significado especial e é uma respeitada cerimónia religiosa. É um momento no ano em que paramos e somos bons e compreensivos para com os nossos. Eu somente aproveito a paragem no desenrolar do dia-a-dia para reflectir.
Vivemos hoje num mundo muito estranho. Os valores seculares do últimos séculos, na sua grande maioria impostos pela igreja cristã através dos mais variados massacres e formas de opressão, têm encontrado, no nosso século, um sem número de problemáticas. Por um lado, temos as metamorfoses de certos valores maniqueístas, onde as questões do que é moral ou imoral, como já vimos com a nossa História, são, na íntegra, subjectivas. O bem e o mal têm vindo a ser adulterados, moldados a uma condição ditada pela habituação. Vendo bem o panorama, é-nos injectada uma droga, através, como diz Fidel Castro, da desinformação. Estamos viciados e consumimo-la numa espécie de transe. Valores simples, pré-cristãos, da ética, moral estão perdidos. Longe vai o tempo em que a ambição era a genialidade e ser-se génio era dominar a Arte, Filosofia, Religião e Ciência. As pessoas desvalorizam o poder da informação e esquecem-se que, ainda hoje, o conhecimento é uma das maiores formas de poder do mundo. Que o digam os aristocratas bem sentados depois de terem patenteado uma ideia.
Este mundo é hipócrita. Nas mesmas metrópoles, onde se concentram normalmente milhões de pessoas diferentes, há os que vivem e os que sobrevivem. Aos primeiros, é crucial apelida-los de formatados conformistas; faço desta forma a minha crítica à severa apatia que se abateu sobre o povo português. Agora existem os sobreviventes. São a esperança de um novo dia. Distinguem-se por terem mais do que dois dedos de testa e por serem uma minoria. Os valores adulterados da imagem e noção de posse, resultam no agravamento dos defeitos sociais humanos, como a inveja, cobiça e arrogância. Assim, este sistema é notoriamente um ciclo vicioso gerador de problemas. Então, porque é que, à semelhança de outros casos da história mundial, não se dá uma rebelião?
A resposta surgiu-me num ápice, à medida que ia escrevendo este texto. Porque se trata de uma sistema aleatório, ou seja, depende muito da vida e das suas vicissitudes: o tal caminho - chamemos-lhe destino - que é traçado por nós que carrega consigo o peso das nossas decisões. Quero com isto dizer que é uma questão de destino, sorte, coincidência, esforço, dedicação, fé, o que seja. Vivemos impávidos e serenos com a esperança de que os males deste mundo não nos toquem a nós, porém, quando o desgosto bate à porta, ganhamos consciência. É pena que seja necessário provar de um veneno para se procurar o antídoto.

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