7.12.06

Baile de Máscaras

Em tempos, escrevi muito sobre uma prática comum à humanidade: o uso de máscaras, vulgo facetas adoptadas para específicas confrontações sociais. Critiquei-o, pela superficialidade da maior parte da interacção humana e defendi-o com unhas e dentes já que protege o mundo de nós e nós do mundo.
Facto: todas as pessoas usam máscaras, nas mais variadas alturas. Por vezes, com aqueles a que estamos mais habituados a estar, reduzimos a intensidade - o índice de artificialidade - e são nessas alturas que estamos mais vulneráveis. Falo, agora, por mim, quando digo que a máscara funciona como um refúgio, já que a nossa essência, a alma, precisa constantemente de protecção. Analisando objectivamente, podemos concluir que o uso de facetas que não são bem nossas é, de certa forma, um mecanismo de defesa.
Na maior parte das vezes, sinto que estou num baile de Carnaval em Veneza. As pessoas dançam as suas vidas com máscaras, sempre bonitas e elaboradas; quando a música acaba, seguem para o seu lar, com a sua cara. Sei que preferia dançar sem máscara: evitam-se desilusões. E vocês, que preferiam?

3 comments:

T-Regina said...

Olá Vallium :) Não sei se conheces este pequeno poema do Fernando Pessoa.

Depus a máscara e vi-me ao espelho - era a criança de há quantos anos.
Não tinha mudado nada...
É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
o passado que foi
a criança.
Depus a máscara, e tornei-a a pô-la.
Assim é melhor,
Assim sem a máscara.
E volto à personalidade como a um términos de linha.

(18-8-1934)
Álvaro de Campos

Sobre o tema da Máscara, um grande poeta brasileiro - Augusto dos Anjos - escreveu algumas coisas. Posso enviar-tas. Beijinhos blogosáuricos!

Vallium said...

Obrigado! Vou querer esses escritos. Beijinhos!

Anonymous said...

Ah, a infame Teoria das Máscaras! Vou ser sincera, sou mais apologista das máscaras do que provavelmente seria adequado. Quando afirmas que se evitavam mais desilusões se fossemos nós próprios, não consigo deixar de pensar que é para isso que as usamos. Para não nos desiludirmos, mais a nós próprios que aos outros, talvez? Quem acaba mais desiludido quando estas máscaras caem?
Às tantas tudo se confunde, e já não sabes quem tu és ou quem são os outros, se o que vês são máscaras, fragmentos ou a ausência delas. Se as pessoas te dão a ver uma faceta por algum motivo é, e não podes ser tu a avaliar a validade ou profundidade desses motivos - se não as conheces, como podes julgar a nobreza das suas acções? Como as podes analisar, sequer?

«Man is least himself when he talks in his own person... Give him a mask and he'll tell you the truth.» - Oscar Wilde

Não acho saudável passarmos a vida toda atrás de peças de porcelana mais ou menos pintadas. Mas, se precisarmos de um bom motivo para acabarmos com elas, talvez o medo da desilusão não seja o melhor. Talvez, mais importante que qualquer receio de um coração partido (e não é só o amor que faz destas coisas), seja a importância de nos conhecermos a nós próprios e de sabermos quem somos .
Parece-me que vim ter à pergunta mais velha da Humanidade...