29.12.06

Entre uma bica e um pastel de nata

Enquanto escorremos por entre as margens de doces dissabores com que a vida nos vai congratulando, vamos esbarrando contra uns e outros, com toda a discriminação implícita. No momento em que somos projectos de pessoa, cada dia acarta uma eternidade de minutos que teimam em não passar. À medida que o projecto se vai concretizando, os dias encurtam, as noites desvendam aquela faceta que enamora e atrai para um momento diferente, despretensiosamente iluminado; os outros continuam a passar, alguns ficam por mais uns minutos: tomar aquele café vestido de porcelana de reflexos pérola, diluído em mil e uma conversas em jeito de amanhecer. Tecem-se novas ligações, com mais ou menos gotas de uma madrugada de Outono, com uns, partem-se com o estrondo de um embate frontal ou o suave estalar de um vidro com outros. Uns e outros. E a morangada...

Trabalho, constituir família, ir vivendo. Avança-se numa velocidade proibitiva em direcção a um suposto objectivo concreto facetado pelo comum, dado como verdadeiro (não será mesmo?). O único espaço de manobra talvez seja concedido no optar entre o arremesso de um tijolo ou o seu suave posicionamento, medido em pormenor de minúcia, nas paredes da Obra.

Talvez seja de mim, mas não vejo a utilidade disto para o universo. Algo mais? Claro que sim, porque...

Cumps.

25.12.06

Reflexão de Natal

Natal. Para muitos, é uma época com um significado especial e é uma respeitada cerimónia religiosa. É um momento no ano em que paramos e somos bons e compreensivos para com os nossos. Eu somente aproveito a paragem no desenrolar do dia-a-dia para reflectir.
Vivemos hoje num mundo muito estranho. Os valores seculares do últimos séculos, na sua grande maioria impostos pela igreja cristã através dos mais variados massacres e formas de opressão, têm encontrado, no nosso século, um sem número de problemáticas. Por um lado, temos as metamorfoses de certos valores maniqueístas, onde as questões do que é moral ou imoral, como já vimos com a nossa História, são, na íntegra, subjectivas. O bem e o mal têm vindo a ser adulterados, moldados a uma condição ditada pela habituação. Vendo bem o panorama, é-nos injectada uma droga, através, como diz Fidel Castro, da desinformação. Estamos viciados e consumimo-la numa espécie de transe. Valores simples, pré-cristãos, da ética, moral estão perdidos. Longe vai o tempo em que a ambição era a genialidade e ser-se génio era dominar a Arte, Filosofia, Religião e Ciência. As pessoas desvalorizam o poder da informação e esquecem-se que, ainda hoje, o conhecimento é uma das maiores formas de poder do mundo. Que o digam os aristocratas bem sentados depois de terem patenteado uma ideia.
Este mundo é hipócrita. Nas mesmas metrópoles, onde se concentram normalmente milhões de pessoas diferentes, há os que vivem e os que sobrevivem. Aos primeiros, é crucial apelida-los de formatados conformistas; faço desta forma a minha crítica à severa apatia que se abateu sobre o povo português. Agora existem os sobreviventes. São a esperança de um novo dia. Distinguem-se por terem mais do que dois dedos de testa e por serem uma minoria. Os valores adulterados da imagem e noção de posse, resultam no agravamento dos defeitos sociais humanos, como a inveja, cobiça e arrogância. Assim, este sistema é notoriamente um ciclo vicioso gerador de problemas. Então, porque é que, à semelhança de outros casos da história mundial, não se dá uma rebelião?
A resposta surgiu-me num ápice, à medida que ia escrevendo este texto. Porque se trata de uma sistema aleatório, ou seja, depende muito da vida e das suas vicissitudes: o tal caminho - chamemos-lhe destino - que é traçado por nós que carrega consigo o peso das nossas decisões. Quero com isto dizer que é uma questão de destino, sorte, coincidência, esforço, dedicação, fé, o que seja. Vivemos impávidos e serenos com a esperança de que os males deste mundo não nos toquem a nós, porém, quando o desgosto bate à porta, ganhamos consciência. É pena que seja necessário provar de um veneno para se procurar o antídoto.

24.12.06

impotente

"e eu impotente, cinemascope, 35 milímetros de mim; a raiva afogada entre cubas livres e pernas de mulheres que não são putas, nem são falsas, nem são nada. São pernas de mulheres e cubas livres, simplesmente."

Viriato Ventura

23.12.06

Acordei pela 7ª vez...

Acordei pela 7ª vez, os olhos não se querem abrir. Sinto o cheiro. Alfazema... Rosas... Uma sedução doce que se entranha e emaranha que nem novelo sem começo nem fim pela correria de pensamentos dissidentes. Sinto a íris branca. Cego. A visão do inconsciente assume um protagonismo audaz, fazendo da loucura sua irmã gémea. Fecho os olhos e avanço pela sala desconhecida; Não acredito no destino, gosto da pergunta (sem resposta), aceito o inevitável como mera probabilidade. Estatística oculta, são esses os pensamentos de uma mente sã.

Cumps.

21.12.06

Música e Eu.

Gosto de me sentar em casa, depois da confusão natalícia da baixa, com um CD novo, acabado de comprar. Convém frisar que faço colecção de álbuns de música originais, logo é inevitável sentir aquele carinho por mais item num conjunto que me vêm acompanhando desde os meus onze anos.
O outro ritual é pôr o CD na aparelhagem - velha companheira - e, deitado na cama, ler o folheto o acompanha. Sentir a magia de ouvir a música pela primeira vez, na sua qualidade máxima, e contemplar toda a obra, no seu design, na sua forma, na sua estética e, claro, a sua mensagem. A música é um veículo poderoso e deve ser sempre respeitado.
Qual a melhor sensação que ouvir a melodia exacta, no momento ideal? A música é uma das face da arte. Não a considero melhor, pior, em relação às suas irmãs. No entanto, há que assumir que a sua individualidade, na arte, é para mim a mais mágica. Na derradeira escolha, antes ser cego que surdo. Uma conhecida disse-me, há uns meses atrás, que a sua irmã sentia música clássica de uma forma que não sentia mais nenhum outro estilo musical. Segundo essa mesma irmã, as melodias expressam emoções fortíssimas como a tristeza, saudosismo, melancolia, alegria, felicidade, raiva, amor, paixão. Partilho deste sentimento. A música é um veículo, como já referi, e leva-nos aos mais variados sentimentos. A música é a salvação que preenche o que não há na vida. É a forma de arte que mais amo e quem mais devo.

20.12.06

tempo


O tempo. Passa por nós e sente-nos passar por ele. Somos apenas passageiros na sua seiva que corre no interior daquilo que não conhecemos. Olho para o passado e dele só tenho memória e as certezas que formam parte do que sou. O futuro é aquilo que eu quero, que desejo, que anseio. É de passado que somos feitos, ele vai moldando o que somos. Porém, se nos deixarmos de retrospectivas, podemos sorrir. Porque é a libertação do passado, o anseio do futuro, que nos permite dar um passo para a grande questão que a humanidade enfrenta: quem somos?
Não sei quem sou e tenho a consciência que o que sei é muito pouco. O tempo, esse, sabe tudo. É quem nos transforma a dor numa memória ou nos despoleta as mais intensas paixões. Não relembro o ontem, talvez hoje veja algo novo. Hoje não perdoo. O tempo passa sem o meu perdão.

15.12.06

Cemitério de Pianos

José Luis Peixoto. Considerado por muitos um excelente narrador, é para mim uma lufada de originalidade na literatura a que tenho acesso. São poucos os autores que conseguem conjugar temas já nossos conhecidos como a morte e o amor, e com uma prosa poética narrar magníficas histórias que nos prendem do princípio ao fim. Com uma escrita extremamente musical, compassada e, acima de tudo, ambiental é assim que nos é apresentado o novo romance dele, Cemitério de Pianos.

"lágrima de sol de sangue, a ferver-me no canto do olho, a escorrer-me pela face, a turvar-me a vista sobre aquilo que me será sempre desconhecido, a morte"

Ou se adora, ou se detesta a escrita dele. Contudo, é inquestionável que falamos de um exímio contador de histórias. A morte, o amor, paixão, sexo, ódio, ciúme, raiva, desespero, saudade, Alentejo. Todos retratados por um jogo de palavras invejável. Um bom livro. As palavras tornaram-se minhas por várias vezes e, mais importante, tornaram-se parte de pessoas do meu mundo. Apaixonei-me pelas personagens, pela inocência das crianças, pela dor que quase todas as personagens partilham.


"E, por baixo de tudo o que tu disseres, escondido, enterrado, estará aquilo que sentes. Isso sabes fazer bem. Sabes odiar. Sabes impor as tuas opiniões e não deixar que ninguém te contradiga. Sabes acabar com as conversas."

14.12.06

Paris, je t'aime


Cidade da luz. Percorro as suas ruas, mas as pessoas não reparam em mim; não sou parisiense, logo não sou imune à magia que, a cada minuto que respiro, se entranha profundamente em mim. Divago por Montmartre. Passo pelas lojas, pelos prédios e oiço, ao fundo, a azáfama de turistas. Bonjour Madame. Falam, sibilam as palavras na musicalidade que só a língua francesa consegue atingir. Sigo a poluição sonora turística. Paris cada vez mais dentro de mim, e eu dentro de Paris. Os nossos corpos unem-se em desejo mútuo. Chego ao pé do Sacre Coeur e, na sua escadaria, vejo-a: despida, iluminada, a sorrir para mim. Não existe nada para além da nossa respiração ofegante. Beijo-a, tomo-a como minha. Somos um só, entro dentro dela e suspiro. Amo-te Paris.

12.12.06

Obrigado

Depois de uma manhã de aulas e oito horas de Avid em frente a um computador portátil enchi por completo o saco. Estudar foi a primeira hipótese a ser excluída no leque de acções que se iriam seguir; acabei por sentir aquela sensação, algo incómoda, de abrandamento. Lentamente, a inércia apoderou-se do meu corpo e comecei a divagar pelos recantos da minha mente, ao som de bombos e tarolas.

"Cada um é como é, não como o outro o deseja.
Mas se queres ser um burro com palas, então que assim seja."

MC Mundo


Ouvi esta frase hoje. Fez-me pensar na amizade. Por mais pedras que me atirem, de uma coisa não me queixo; não sendo muitos, são autênticos anjos da guarda os amigos que tenho. Não existem poemas, nem sequer palavras, que possam descrever a estima que tenho por certas pessoas. Pela compreensão, pelas discussões, pelas lágrimas e pelos sorrisos rasgados. A erosão do tempo dita quem permanece e quem parte: obrigado aos que ficaram.

11.12.06

Marteladas.

Nos últimos dias, têm sido várias as pessoas que, em conversa, abordam o tema das relações humanas. É engraçado ver as visões diferentes sobre o que é Amor, paixão e, até mesmo, amizade. Os desgostos são sempre os mesmos: traições, esquecimentos, egoísmos, calculismos e crueldade.
Uns generalizam e dizem "ah, são todos iguais" e "ah, são todas iguais". Penso que seja a sua dor a falar, porque ela cega-nos e torna-nos ignorantes. É muito ténue a linha que separa o Amor do Ódio. Porém, houve alguém que conseguiu opinar de uma forma brilhante sobre o assunto, condenando a generalização. "Existem pessoas boas e más, homens ou mulheres;", e as palavras caíram como martelos numa bigorna. A verdade dói.

9.12.06

Um Duche Longo

Aqueles 30 minutos exagerados que me fazem recuperar horas de vida, por cada gota um pensamento cada vez mais intrinsecamente difuso, uma divagação mais incoerente. Dar a outra face à luva branca da água. Desvairos e alucinações. Tremo e sinto, no olhar fechado por cortinas de pele, a minha inconsistência fruto do pequeno stack, ou mesmo stock, de anos já (ou ainda) acumulados. São aqueles 30 minutos de liberdade em que estamos connosco e mais ninguém, acompanhando a espiral descendente que desliza pelo ralo. Já o outro falava do jardim em que mais ninguém entrava a não ser que fosse convidado. Abençoados sejam os momentos de silêncio.

Cumps.

"A shower is a juggling pattern for 3 or more objects, most commonly balls or bean bags.It gives a feeling of 'circular' pattern.Balls are thrown high from hand A to hand B (siteswap 5), and low from hand B to hand A (siteswap 1). Reversing the direction may eventually lead to the box pattern. "

8.12.06

Gritos

Edward Munch - "O Grito"


"fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga."

José Luís Peixoto

7.12.06

Baile de Máscaras

Em tempos, escrevi muito sobre uma prática comum à humanidade: o uso de máscaras, vulgo facetas adoptadas para específicas confrontações sociais. Critiquei-o, pela superficialidade da maior parte da interacção humana e defendi-o com unhas e dentes já que protege o mundo de nós e nós do mundo.
Facto: todas as pessoas usam máscaras, nas mais variadas alturas. Por vezes, com aqueles a que estamos mais habituados a estar, reduzimos a intensidade - o índice de artificialidade - e são nessas alturas que estamos mais vulneráveis. Falo, agora, por mim, quando digo que a máscara funciona como um refúgio, já que a nossa essência, a alma, precisa constantemente de protecção. Analisando objectivamente, podemos concluir que o uso de facetas que não são bem nossas é, de certa forma, um mecanismo de defesa.
Na maior parte das vezes, sinto que estou num baile de Carnaval em Veneza. As pessoas dançam as suas vidas com máscaras, sempre bonitas e elaboradas; quando a música acaba, seguem para o seu lar, com a sua cara. Sei que preferia dançar sem máscara: evitam-se desilusões. E vocês, que preferiam?

5.12.06

Quantos são 30?

"Série de atentados em Bagdad fazem pelo menos 29 mortos"

Perante esta frase é hoje em dia comum pensar "Tsc... que chatice." Mas será que realmente nos apercebemos do quão 'chato' isto realmente é? Vomitam-se números e estatísticas em relação aos maiores podres da Humanidade aos quais já não é dado o devido peso. 30 pessoas mortas. 30 pessoas. Imaginem a turma do 10º ano trucidada, espalhada pelo campo de futebol da escola secundária a que pertenciam, com todo o pormenor possível (é favor descartar os que vos fizeram esboçar um sorriso com tal imagem). Não que queira encaminhar este post por uma vertente gore, mas assim talvez pensemos com mais lucidez no facto de serem pessoas, vossos colegas ou não, com a sua vida, amores, desamores e ideias.
Perante tanta atrocidade, permanecemos impávidos e serenos? Claro que sim. Há alguma coisa que possamos fazer? É possível. Estaremos dispostos a fazê-lo? Se sim, até que ponto? Respondam-me vocês. Dou uma ajuda, adoramos o nosso umbigo e o rabo está sempre tão bem quando pressionado de encontro ao assento da cadeira.

Às vezes pergunto-me até que ponto é que a culpa não será das pessoas que assistem à evolução do mundo como se de um filme se tratasse, e logo, até que ponto não terei eu também as mãos manchadas de sangue.

Cumps.

4.12.06

O Peso Próprio da Palavra

As palavras, o jogo que implica a sua construção e reconstrução, formando sempre frases diferentes com os mais variados significados, fazem-me nutrir por elas uma paixão que teima em desaparecer. Há umas horas atrás, divagando pela teia informática, deparei-me com um poema de José Régio que, simplesmente, me tirou do sério.
Fiz uma pequena pesquisa na Wikipédia: José Régio é um pseudónimo utilizado por José Maria Dos Reis Pereira, nascido em Vila do Conde no ano de 1901, e foi um escritor que viveu grande parte da sua vida em Portalegre. Fiquei curioso, já que, passo a citar, "a sua obra é fortemente marcada por conflitos entre Deus e o Homem, o indivíduo e a sociedade, numa análise crítica da solidão e das relações humanas."
Acho fantástico o domínio deste poeta na maneira como usa, e abusa, da aliteração. A musicalidade que ele consegue incutir nos seus poemas é, no mínimo, mágica. Transpõe-nos, graças à magnífica construção de palavras, para realidades que só encontramos nas profundezas da nossa imaginação. A poesia tem destas coisas, faz-nos matutar em versos, quadras e significados.
Antes de me ir deitar, tive um súbito apetite de estrofes e rimas: tirei da minha estante o Criança Em Ruínas, um livro de poemas de um outro escritor português, meu contemporâneo: José Luís Peixoto. Durante meia-hora viajei pelas trevas que são pintadas numa tela de palavras; senti o seu peso à medida que ia tornando as metáforas, os significados, as melodias como minhas.

"felizmente, há os versos, último esconderijo da pureza.
porque o destino são os versos e os pombos que cruzam
o céu em círculos que sempre regressam."
José Luís Peixoto

3.12.06

Overdose de Pizza

Gosto de distinguir duas coisas no que diz respeito à criatividade. Por um lado, quando surge de forma espontânea, apesar de conhecer quem discorde, sou forçado a referir-me a ela como inspiração. Agora, quando existe uma obrigatoriedade em ser-se criativo, aí a porca torce o rabo. É como ter acabado de comer uma pizza média acompanhada de um litro e meio de coca-cola e, de seguida, nos pedirem para comer um pouco de tarte: simplesmente enjoativo.

Até faço >POP<

Neste mundo manipulado pelas MTVs, CNNs e afins, surge em força um viver o dia-a-dia forrado a veludo rosa, ou qualquer outra cor que esteja na moda, com um cheiro nauseabundo a naftalina que só não é sentido por quem assim se governa. Apesar de existirem excepções, como boa regra que é, assiste-se a uma despersonalização de cada um, sempre a caminho do socialmente mais aceite/admirado. Brotam que nem cogumelos estereótipos de tudo e mais alguma coisa, da Morangada aos 50 cêntimos.

Infelizmente não se resume ao modo de vestir e penteado que se tem, vem atrás toda uma maneira de ser pré-formatada; consulta-se informação sem pensar na informação. Segue-se a conclusão que o Vallium destacou no primeiríssimo post, um vazio arrepiante nas conversas desta gente e um acenar de cabeça consensual a qualquer lixo que lhes seja entregue. Daqui surge também a mania de extrapolar a partir de alguns factores conhecidos todo o comportamento expectável de uma pessoa. É um ciclo vicioso, se sigo a moda correspondendo a um grupo bem definido sou facilmente identificável. Se por acaso alguém com identidade roçar algo desse grupo, fica imediatamente com um carimbo na testa. And that's bullshit...

Tendo isto em conta, admito irritar-me com cada vez maior facilidade ao encontrar estas criaturas determinísticas, que, quando em grupo, se tornam numa peculiaridade social desagradável de esbanjamento, arrogância (minha também provavelmente) e soberba minando tanto local desta nossa bela Lisboa, onde sinto na pele o que relato.

Opinei, espero não ter sido diarreico.

Cumps.

Conhecimento Deprimido

O conhecimento é uma faca de dois gumes. Num livro que andei a ler, Quando Nietzsche Chorou, escrito por Irvin D. Yalow, o filósofo alemão afirma que "o desespero é o preço pago pela auto-consciência". Ora, é meu hábito pensar que quanto mais sabemos melhor somos, já que possuímos ferramentas intelectuais que, à partida, nos distinguem da maioria. Os grande líderes da humanidade, se bem que maioritariamente fascistas loucos e tiranos, eram todos grandes crânios. No entanto, uma maior consciência do que nos rodeia, principalmente nos dias de hoje, pode ser algo nocivo; vivemos num mundo cheio de inúmeros podres, onde o Terrorismo semeia o medo, o poder económico dita as leis e onde a sobrevivência é uma missão cada vez mais impossível. Este cenário torna-se mais negro visto que estamos em Portugal.
Nós somos o irmão pobre da península Ibérica. No nosso país, para além de séculos de história que as novas gerações teimam em esquecer, estabelecem-se os mais variados recordes: há uns anos lembro-me de ver o Rui Unas, no Cabaret da Coxa, festejar entusiasmado a "promoção" de Portugal para o "país onde se consome mais álcool entre os jovens." Mais, somos também o pais que mais anti-depressivos e estabilizadores de humor consome, o que nos torna num perigoso cocktail alucinogéno que vários artistas dos anos oitenta, infelizmente já falecidos, consumiam regularmente.
Continuamos é a braços com uma herança cultural que, só no estrangeiro, teima em destacar-se. Na música, na arte, em tudo; não damos valor ao que é nosso.

2.12.06

Opiniões

Opiniões. Por vezes, e não focando a atenção em diarreias mentais, sentimos uma certa necessidade intelectual de nos expressar. Para além da necessidade de comunicar - que qualquer ser humano sem deficiências motoras ou mentais necessita para interagir socialmente - temos também uma certa necessidade de registo.
Falo por mim quando me refiro a esta necessidade de guardar os pensamentos para a posteridade. Gosto da sensação de abrir a página deste blog e ver escritos passados; dias difusos com opiniões e gritos caóticos ou bonanças em que reflexões calmas dão lugar a novas ideias. Escrever é, também, uma paixão. Temos na nossa mão o poder de moldar palavras, tornando-se estas num pincel que nos permite pintar belas telas, novos mundos e grandes sonhos. Escrever é sentir nas nossas mãos um controlo sobre algo que é inteiramente nosso. Quer as palavras que ,delicada e unicamente, são criadas por nós; quer o seu significado do qual somente o autor conhecerá a sua verdade absoluta.
Mas hoje em dia não se pensa nisso. Um professor meu, numa aula, descreveu a minha geração como uma, passo a citar, "cambada de formatados sem ideias que só papam telenovelas ranhosas." Apesar da violência das palavras, fez-me rir, pois concordo totalmente. Perdeu-se o hábito de reflectir e, consequentemente, todo o processo de diálogo torna-se cada vez mais medíocre. As grandes preocupações dos jovens dos nossos dias são estereótipos distinguíveis apenas pelas diferenciações das classes sociais. Terei razão? Sou nada mais que uma opinião e, passe o cliché e a formatação televisiva, everybody has one.