28.1.07

Planificação

Fui comer um iogurte natural, naturalmente com duas colheres de açúcar. Na tampa uma mensagem que me fez começar a divagar: "Quem anda à chuva, molha-se." Cada um sabe o que faz da sua vida, espreitando por uma ou outra porta. E no fim pode dar errado... dá mesmo. Depois de uma expectativa salivar, tanto vem o mal estar-o pensamento em ciclo infinito-as lutas contra o nosso reflexo-os minutos eternos até adormecer, como um novo mundo-estímulos nunca sentidos em jeito de novas sensações-uma necessidade de fruir de cada gota com que o tempo nos brinda.

Todos retiram algum prazer sadomasoquista no rebolar pela espiral descendente. Pode-se extrapolar uma que outra aprendizagem, mas o ponto fulcral está do outro lado do espectro, aquele que deturpa o dia-a-dia, o que arranca pedaços de alma sem aviso nem porquê. A dádiva (esotérica ou não) que é não ser mastigado por uma queimadura visceral e o respectivo desprendimento do pensamento desta constatação. A um "'tá tudo bem?" sai o instintivo "cá estou, cá estou." sem peso, sem contra-medida, sem justificação. Não tomemos tudo por garantido, hoje compro a "Cais" (maquiavelicamente dúbio este nome), amanhã tento desesperadamente vendê-la a quem me olha com desdém.

Embato de frente com um cliché detestável: "Carpe Diem", a aparente necessidade de encher a vida de artifícios cor-de-rosa para nos sentirmos bem. Não falo de experiências novas, mas de novas formas de experimentar; perspectivar o "banal" e "comum" sentindo cada cinzento da sombra tricolor.

Cumps.

21.1.07

IVG

Sendo um tema em voga, ainda para mais com a consulta popular aí à porta, quis opinar e explicitar a minha opinião sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez(IVG). Até há bem pouco tempo tinha a noção de que os jovens, apesar da estupidificação geral que se faz sentir em Portugal, eram uma esmagadora maioria de apoiantes à liberdade de escolha da mulher. Tirando casos excepcionais de snobs da classe alta - sem qualquer tipo de noção das dificuldades que o resto dos portugueses sofrem - que se defendem dizendo que se trata de uma vida e que é um homicídio. Como estas mesmas pessoas depois me disseram que em caso de violação poder-se-ia dar uma excepção, concluo que no ver delas uma vida só ganha o seu respectivo valor se for concebida com consentimento. Poupem-me ao trabalho e reflictam sobre a vossa própria ignorância.
Inclusivamente pessoas altamente inteligentes e com padrões morais e éticos que eu considerava semelhantes aos meus, surpreenderam-me defendendo o não. Eu não quero entrar aqui na discussão se é vida, se deixa de ser, se é homicídio, se não é. Agora, para defender a minha posição, sustento apenas uma tese: a IVG existe, já há muitos anos. É praticada hoje, e será praticada no futuro. E, sendo um problema que irá sempre existir, porque é utópico acreditar em políticas de natalidade funcionais no nosso país, porque é que temos nós que descriminar quem opta por abortar? Para além das pobres almas que são violadas e engravidam, ninguém se lembra das crianças mais desfavorecidas, ignoradas em todos os sectores sociais?
É muito simples na verdade, é uma questão de lógica. Se o problema existe, e vai existir, porque não tornar as condições dos procedimentos mais seguras, legalizando a IVG?

13.1.07

Pensar

Já parece mentira, mas os dias passam e eu não escrevo. Não que não me apeteça, mas porque simplesmente até já olhar para o teclado se torna cansativo. Injecções de trabalhos, noites mal-dormidas e blocos de horas de aulas contribuem para um progressivo cansaço. Tenho sorrido nos últimos dias, aproveitado a maré de concentração para pensar. Simplesmente pensar.

6.1.07

MMVII

Primeiro texto de 2007; olho para o novo ano com alguma indiferença. São trezentos e sessenta e cinco dias que não conheço, imprevisíveis, caminhos novos, sorrisos, lágrimas. Nada de novo na vida. Algum positivismo bateu-me à porta no momento em que fechei os olhos e, algures dentro de mim, encontrei uma força. Talvez uma vida nova, matar as saudades de sorrisos de outrora.

De quê?

Decadente, deslavado, desinteressante, derivado, desesperante, desolador, decaído, decalcado, desalentador, decepcionante, descalcificador, decifrado, decidido. Declarado, decrépito, decomposto, decorativo, defectivo, defecatório, defeituoso, desajustado, definhado, deformado, devasso, defunto, degradante. Degredado, dejecto, demente, descartado, deplorável, deprimente, desafinado, desagradável, deteriorante. Desconcertante, deficiente, desigual, delinquente, denunciável, desumano, deturpador, detractivo.

Obrigado? 'De nada'.

Cumps.