Planificação
Fui comer um iogurte natural, naturalmente com duas colheres de açúcar. Na tampa uma mensagem que me fez começar a divagar: "Quem anda à chuva, molha-se." Cada um sabe o que faz da sua vida, espreitando por uma ou outra porta. E no fim pode dar errado... dá mesmo. Depois de uma expectativa salivar, tanto vem o mal estar-o pensamento em ciclo infinito-as lutas contra o nosso reflexo-os minutos eternos até adormecer, como um novo mundo-estímulos nunca sentidos em jeito de novas sensações-uma necessidade de fruir de cada gota com que o tempo nos brinda.
Todos retiram algum prazer sadomasoquista no rebolar pela espiral descendente. Pode-se extrapolar uma que outra aprendizagem, mas o ponto fulcral está do outro lado do espectro, aquele que deturpa o dia-a-dia, o que arranca pedaços de alma sem aviso nem porquê. A dádiva (esotérica ou não) que é não ser mastigado por uma queimadura visceral e o respectivo desprendimento do pensamento desta constatação. A um "'tá tudo bem?" sai o instintivo "cá estou, cá estou." sem peso, sem contra-medida, sem justificação. Não tomemos tudo por garantido, hoje compro a "Cais" (maquiavelicamente dúbio este nome), amanhã tento desesperadamente vendê-la a quem me olha com desdém.
Embato de frente com um cliché detestável: "Carpe Diem", a aparente necessidade de encher a vida de artifícios cor-de-rosa para nos sentirmos bem. Não falo de experiências novas, mas de novas formas de experimentar; perspectivar o "banal" e "comum" sentindo cada cinzento da sombra tricolor.
Cumps.