4.12.06

O Peso Próprio da Palavra

As palavras, o jogo que implica a sua construção e reconstrução, formando sempre frases diferentes com os mais variados significados, fazem-me nutrir por elas uma paixão que teima em desaparecer. Há umas horas atrás, divagando pela teia informática, deparei-me com um poema de José Régio que, simplesmente, me tirou do sério.
Fiz uma pequena pesquisa na Wikipédia: José Régio é um pseudónimo utilizado por José Maria Dos Reis Pereira, nascido em Vila do Conde no ano de 1901, e foi um escritor que viveu grande parte da sua vida em Portalegre. Fiquei curioso, já que, passo a citar, "a sua obra é fortemente marcada por conflitos entre Deus e o Homem, o indivíduo e a sociedade, numa análise crítica da solidão e das relações humanas."
Acho fantástico o domínio deste poeta na maneira como usa, e abusa, da aliteração. A musicalidade que ele consegue incutir nos seus poemas é, no mínimo, mágica. Transpõe-nos, graças à magnífica construção de palavras, para realidades que só encontramos nas profundezas da nossa imaginação. A poesia tem destas coisas, faz-nos matutar em versos, quadras e significados.
Antes de me ir deitar, tive um súbito apetite de estrofes e rimas: tirei da minha estante o Criança Em Ruínas, um livro de poemas de um outro escritor português, meu contemporâneo: José Luís Peixoto. Durante meia-hora viajei pelas trevas que são pintadas numa tela de palavras; senti o seu peso à medida que ia tornando as metáforas, os significados, as melodias como minhas.

"felizmente, há os versos, último esconderijo da pureza.
porque o destino são os versos e os pombos que cruzam
o céu em círculos que sempre regressam."
José Luís Peixoto

1 comment:

T-Regina said...

olá lindos! que bom vê-los por aqui :) Fico bem contente que também tenham decidido montar o vosso estaleiro de palavras! Blogosáuricos beijos aos dois! ;)